Atualmente 54 países apresentam Sistemas de Pagamentos Instantâneos (SPI), sendo os principais motores dessa escalada os programas lançados na Ásia e a expansão no sistema europeu das chamadas Transferências a Crédito Instantâneas do SEPA (Área Única de Pagamentos em Euro, ou Single Euro Payments Area).
De acordo com o relatório anual Flavors of Fast da Fidelity National Information Services (FIS), que criou um ranking de programas de pagamentos em tempo real, classificando os países que utilizam SPI com base em características inovadoras e aplicação no mercado, a Índia hoje é o líder global em usabilidade de pagamentos instantâneos.
A plataforma indiana para transferências de dinheiro em tempo real, IMPS (Immediate Payment Service), foi classificada pela empresa FIS como a melhor inovação global de pagamentos. Hoje o IMPS já supera países como Estados Unidos e surpreendentemente a China, que já usa essa forma de pagamento há alguns anos por meio dos aplicativos AliPay e WeChat Pay.
Pelo segundo ano consecutivo, a plataforma IMPS levou a nota máxima (5+), sendo o único país a receber tal classificação. O volume diário de transações de IMPS cresceu de cerca de 2 milhões por dia em 2017 para aproximadamente 2,8 milhões por dia em 2018.
Outros seis países receberam classificação 4+ em seus sistemas de pagamentos em tempo real: Austrália, Dinamarca, Polônia, Romênia, Cingapura e Suécia. Já os EUA e Reino Unido apresentaram classificação 4 para seus esquemas de pagamentos.
Tanto o IMPS quanto a Interface de Pagamentos Unificados (UPI) são criações da National Payments Corporation of India (NPCI). Em um relatório de outubro de 2019, a Morgan Stanley, empresa global de serviços financeiros, projetou que as transações por meio da UPI podem atingir US$ 2,5 trilhões anualmente até 2029.
E quanto a situação do Brasil?
Em 19 de fevereiro de 2020, o Banco Central do Brasil (Bacen) anunciou o lançamento oficial da marca PIX, que permitirá Pagamentos Instantâneos em todo o Brasil a partir de 16 de novembro deste ano.
Agora seis meses depois, bancos como Inter, Itaú Unibanco e Santander iniciam o pré-cadastro de seus clientes que tenham interesse no PIX. No caso do Inter, através de mensagem, os clientes do banco puderam se cadastrar e assim ter a oportunidade de serem um dos primeiros a testar tal novidade.
Na mensagem é informada a disponibilidade da chave de endereçamento para o dia 05 de outubro. Nessa modalidade de pagamento via PIX a transação é realizada por meio do fornecimento de informações como número do celular, e-mail ou CPF do recebedor. Basta apenas um destes dados.
A partir daí a plataforma irá cruzar as informações e retornar ao pagador a confirmação se é de fato a pessoa ou empresa a quem ele quer transferir. Após as verificações, basta adicionar o valor, senha do banco e confirmar a transferência. Tudo será executado dentro do aplicativo da instituição financeira.
Tal sistema de pagamentos promete grandes mudanças, já que funcionará 24h por dia, todos os dias do ano, a um custo operacional mais baixo. Sua chegada oficial irá coincidir com a época de Black Friday no país. Daí o potencial para ajudar o mercado neste momento de pandemia. Com 25 anos do surgimento do e-commerce no Brasil, este será o primeiro com PIX.
O novo sistema de pagamentos estará disponível nos aplicativos de bancos, como o Inter. Mas a probabilidade é alta de que outras instituições financeiras também vão oferecer o PIX em seus aplicativos. O Santander, por exemplo, criou o chamado “SX”. Tal solução será conectada ao sistema de pagamentos instantâneos PIX.
Relembrando alguns pontos
A espera pelo PIX pode ser explicada em sete fatores que justificam esse sistema ser sinônimo de inovação:
- Velocidade: as transações brasileiras, em sua maioria, poderão ser realizadas em até 10 segundos e os recursos serão disponibilizados ao recebedor imediatamente.
- Disponibilidade: o PIX permite que transações sejam realizadas 24/7, ou seja, a qualquer hora, todos os dias da semana, incluindo feriados.
- Multiuso: trata-se de um sistema flexível e que por esse motivo terá como objetivo atender qualquer tipo de demanda das instituições financeiras.
- Conveniência: além de fácil de usar e gerenciar, o novo sistema de pagamentos será prático, logo as transações podem ocorrer no próprio celular do cliente, através de um QR Code ou link de pagamento.
- Informações agregadas: os pedidos de transferências levam consigo um grupo de dados, possibilitando a identificação de transações e os negócios atrelados a elas. Isso aumenta a automação de processos e a conciliação de pagamentos.
- Segurança: recursos de autenticação de usuários, prevenção de fraudes e possibilidade de limitação de valor das transações agregam mais segurança ao sistema.
- Ambiente aberto: o PIX é aberto à participação das mais diversas empresas, o que fomenta a competitividade e a inovação.
Chegada do PIX deve beneficiar o varejo
O novo sistema de pagamentos instantâneo pode representar um benefício direto as redes de varejistas que trabalham com crediário, justamente em função da parcela de clientes que usam somente cartão de crédito para compras. Isso representa uma maior facilidade em aceitar o novo canal de vendas da loja, através de um crediário digital próprio.
Outro ponto que vale mencionar é que o PIX também tende a retirar o cliente de dentro da loja, isso por que os pagamentos com PIX poderão ser realizados à distância. Contudo, o setor varejista ainda tem chance de fidelizar os clientes pelo fato de muitos ainda precisarem do crediário para efetuar suas compras.
Com relação ao meio de pagamento, um método eficaz é o incentivo de pagamentos via QR Code apenas nas lojas físicas, do mesmo modo que um crediário hoje.
O controle da inadimplência será mais efetivo com o PIX. O setor varejista poderá cobrar eventuais atrasos com mais tranquilidade, visto que o cliente terá a opção de efetuar o pagamento de forma remota, sem a necessidade de ir à loja. Dessa maneira, a conhecida frase “Eu passo aí depois para acertar tudo” tende a diminuir.
Os impactos nos meios de pagamentos
A promessa de democratizar as transações digitais e simplificar a forma de realizar pagamentos, além de trazer para o digital um público até então “não bancarizado”, fez com que 980 instituições declarassem interesse em explorar esse novo território. Sem contar a aproximação dos consumidores com o digital durante período de pandemia.
Das 980, 120 instituições solicitaram participação direta, com direito a uma conta de pagamento dentro do Sistema de Pagamentos Instantâneos (SPI). As outras 860 participam indiretamente, logo vão precisar de uma empresa com vínculo direto para representá-las e guardar seus recursos.
Na lista de pedidos de adesão estão os cinco maiores bancos do país (Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Itaú e Santander), bancos digitais como Inter e C6 Bank, as fintechs Nubank, PicPay e Creditas, além das credenciadoras de cartões PagSeguro e Stone.
Dentre as possíveis transformações podemos esperar:
- Diminuição do uso dos cartões, especialmente os de débito;
- Diminuição de custos transacionais;
- Maior simplificação, conveniência nos mais diversos pagamentos;
- Maior uso do celular nos processamentos de pagamentos — via QR e com possibilidade de certificação por meio de biometria facial.
No caso dos mobile payments, a adoção dessa forma de pagamento deve acarretar em uma redução nos custos financeiros do varejo, principalmente os de pequeno e médio porte. Outra consequência é a aceleração da digitalização e bancarização de milhões de brasileiros fora do sistema atualmente.
Segmentos como financeiro e tecnológico estão atentos às futuras transformações, mas estas não se limitarão a somente tais mercados. Existe a alta probabilidade de pagamentos pelo PIX criarem um novo mercado para o crédito de consumo no Brasil, com maior envolvimento do próprio varejo. Isso facilitaria as compras, reduziria as intermediações e ocasionaria em uma desconcentraçãode todo o processo.
O setor varejista deve apresentar um papel importante nesse movimento de disseminação dos pagamentos digitais atuando junto aos seus clientes. A chegada do PIX pode vir acompanhada de uma mudança comportamental dos consumidores. Teremos aqueles com pouco ou nenhum relacionamento com instituições financeiras, sendo que talvez o primeiro tenha sido através do cadastro para receber o auxílio emergencial. Outros possuem uma renda por meio de atividades informais.
O varejo pode ser o bom agente de apoio e de disseminação do PIX. Para isso o processo precisa ser conhecido e avaliado em seus impactos mais amplos para o mercado. E as empresas potencialmente envolvidas devem se preparar para a nova e iminente realidade.